sábado, 26 de setembro de 2009

Largo do Boticário - RJ

PERPLEXIDADE/INDIGNAÇÃO




Morando fora há algum tempo, voltei como turista no feriadão de 15 de novembro para matar a saudade da cidade (ainda e sempre) maravilhosa. Driblando o aguaceiro e o frio desta primavera, fomos ao zoológico, ao "Museu dos Ossos", que é como minha filha chama o Museu Nacional, e quase conseguimos ir ao Cristo, mas a chuva, que já tinha sido por demais condescendente, impediu nossa subida ao ameaçar desabar com toda força enquanto ainda estávamos na Rua Cosme Velho, ao lado do Largo do Boticário, onde nos refugiamos, buscando ecos do tempo em que moramos em Laranjeiras e muitas vezes íamos até lá pra ouvir o murmúrio do carioca, ainda Rio naquele trecho.

Deparamo-nos com uma faixa em uma das casas - Confederação dos Tamoios, etc - anunciando uma ocupação com apoio do movimento dos sem teto.

Sem entender o que se passava, fomos aos poucos nos dando conta da terrível situação deste lugar, patrimônio de nossa cidade, que abrigou o atelier de Augusto Rodrigues por tantos anos, reduto de artistas e intelectuais atuantes em tempos nem tão antigos assim.

Ficamos sabendo que a maioria das casas pertence a uma única família que, sem recursos após a morte da "velha", está deixando o tempo e o descaso dar cabo da herança, que, se não passar por urgente restauro, será em breve uma ruína, já que a natureza parece estar tomando de volta o que um dia lhe foi roubado, brotando em todas as frestas e abrindo caminho com poderosas raízes por todos os lados, deixando entrar a água da chuva que faz com que aqueles belos azulejos brancos e azuis comecem a se soltar e serem postos à venda juntamente com revistas velhas e outros tesouros do passado. Há pessoas por ali passando necessidade...

Nossa cidade já conhece os inúmeros benefícios de investir no resgate de nossa memória, de nossa História e cultura. Casarões de Botafogo, Flamengo,Lapa, Centro e tantos outros bairros foram restaurados, devolvidos à população, atraindo mais recursos, turistas, moradores e vizinhos que passam a freqüentar restaurantes charmosos, livrarias e centros culturais que dão vida nova aos bairros então revitalizados.

Como Carioca de corpo e alma deixo aqui um alerta, um pedido de socorro, para que alguém faça alguma coisa antes que aquelas casas desabem. Imagino que sejam tombadas pelo Patrimônio Histórico, se não são, deveriam imediatamente passar a ser. Onde estão os arquitetos e técnicos do IPHAN? O Largo do Boticário é um patrimônio da Cidade do Rio de Janeiro, dos Cariocas, do Brasil e dos milhares de turistas que certamente têm em seus álbuns de viagens este recanto precioso do Cosme Velho e do Brasil.


16/11/2006

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